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Com outra ambição, a Amadora pode ser diferente. Pode ser um local aprazível e seguro para viver, mas também um município dinâmico e inovador, capaz de atrair investimento e gerar empregos qualificados. Mãos à obra, porque a Amadora merece uma nova esperança, um novo rumo, um futuro melhor!



sexta-feira, 27 de outubro de 2006

A Longa Letargia


Algo de errado se passa com a Amadora. Por estes dias, aquela que é a terceira maior cidade do país vê fecharem-se as portas da última livraria que subsistia no concelho. O facto seria apenas triste, não fosse vir na sequência de uma série de episódios que apontam para a eminente extinção da vida cultural no município. Ao longo dos últimos vinte anos, fecharam, uma após outra, todas as salas de cinema que existiam na cidade. Num abrir e fechar de olhos, desapareceram do mapa as poucas rádios a que ainda podíamos chamar locais e, chegados a este ponto, assistimos ao definhar dos últimos jornais que se vão publicando na Amadora.

Dirão alguns que a vida é mesmo assim. Encostada a Lisboa, a nossa cidade é apenas mais uma vítima do magnetismo exercido pela capital, uma atracção fatal que irremediavelmente seca tudo em seu redor.

Mas nem sempre foi assim. Na memória de todos quantos crescemos nesta terra está bem viva a imagem dos cafés, das livrarias, das rádios e dos cinemas que enchiam os nossos dias. Apesar do estigma de subúrbio incaracterístico que há muito marca o quotidiano da Amadora, a verdade é que chegaram a funcionar no concelho sete salas de cinema em simultâneo. Tempos houve em que os jovens passavam as tardes de fim-de-semana na matinée do Cine Plaza, do Lido ou do Cine Estúdio.

Depois, vieram os anos loucos da rádio. As estações locais floresciam um pouco por todo o município, movimentando uma multidão de adolescentes atraídos pelo fascínio da comunicação. Ouve ainda a fase das televisões piratas. Só na Amadora existiam duas e, no espaço de alguns meses, os telhados e as varandas da cidade foram invadidos por uma vaga de pequenas antenas que permitiam a captar as emissões ilegais de televisão.

Hoje, grande parte dos habitantes da Amadora vivem de costas voltadas para a cidade. Usam-na para dormir, mas seguramente não se importariam de viver noutro sítio qualquer, porventura mais seguro, mais bonito e mais próximo do local de trabalho. Esta é a dura realidade que temos que enfrentar e combater com todas as nossas forças.

A responsabilidade pelo estado de desencanto e apatia cultural que tomou conta da cidade é, em grande medida, dos poderes autárquicos que vêem gerindo a Amadora há quase trinta anos. Uma vez mais, a raiz do problema está na política do betão e na lógica do loteamento. Uma lógica que em vez de criar uma verdadeira cidade, que se orgulhe de si própria, gera um emaranhado de bairros suburbanos sem alma nem vida própria.

Em semelhante cenário, dificilmente uma rádio ou um jornal local poderão sobreviver. Porque os órgãos de comunicação de cariz local alimentam-se da vida da cidade e do amor que os cidadãos nutrem pela sua terra. E esses são valores que, lamentavelmente, escasseiam na Amadora.

Seguramente que a missão das autarquias não é sustentar jornais ou estações de rádio locais. Esse é um papel que cabe à sociedade civil, aos cidadãos, aos investidores, às empresas. Para além do mais, todos sabemos que política da subsido-dependência gera, invariavelmente, uma teia de conivências que se destina a tudo menos à satisfação do interesse público.

Porém, é evidente que a existência de uma comunicação social local activa, saudável e independente interessa a qualquer município. Daí que o papel das autarquias passe seguramente pela criação das condições mínimas para que os projectos surjam, sobrevivam e se imponham. Infelizmente, é frequente que a lógica boçal e anti-democrática de muitos dos nossos autarcas os leve a sustentar os jornais que veiculam as teses oficiais e asfixiar os jornais cuja linha editorial delas diverge, ou simplesmente aqueles que tentam manter uma saudável autonomia em relação ao poder político.

Vem esta reflexão a propósito do quadragésimo oitavo aniversário do Notícias da Amadora, efeméride que esta semana se comemora. Com uma longa história de resistência que é unanimemente reconhecida, o Notícias da Amadora é hoje parte integrante do património da cidade. E é também, no momento actual, um exemplo interessante de tolerância e pluralismo, dando voz a diferentes correntes de opinião, mesmo àquelas que claramente divergem da linha editorial traçada pela direcção do jornal.

Há quem pense que a Amadora ganharia com o fim deste jornal. Eu acredito que o Noticias da Amadora faz falta. Como falta fazem o Grande Amadora, a Rádio Mais e todos os projectos de comunicação social local que ficaram pelo caminho. Sem eles a Amadora ficou, indiscutivelmente, mais pobre.
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João Castanheira
Artigo publicado no Notícias da Amadora
26-10-2006

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