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Com outra ambição, a Amadora pode ser diferente. Pode ser um local aprazível e seguro para viver, mas também um município dinâmico e inovador, capaz de atrair investimento e gerar empregos qualificados. Mãos à obra, porque a Amadora merece uma nova esperança, um novo rumo, um futuro melhor!



sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

A Política do Repuxo


A caminho das três décadas passadas sobre a criação do município, a Amadora está de facto mais airosa. Quem poderá seriamente contestar tal evidência.

Os últimos anos foram particularmente activos no aperaltar do concelho. E a verdade é que uma cidade também se faz destas pequenas coisas – embonecar o talude, ajardinar a rotunda, semear aqui e ali uma floreira ou construir meia dúzia de repuxos. Quem não gosta de viver numa cidade mais bonita e organizada, pelo menos na aparência?

O problema surge quando, incapaz de atacar os males estruturais, a autarquia se limita à operação de cosmética. Seja por falta de visão, seja por mero conformismo, seja por outra qualquer razão que escapa ao nosso entendimento.

É certo que, habituados sobreviver num subúrbio desqualificado e incaracterístico, habituados ao grau zero de exigência para com quem governa os destinos do país, muitos cidadãos vão tolerando a política do repuxo.

Mas ao Presidente de uma qualquer Câmara Municipal pede-se que tenha uma outra ambição e que veja além da pequena empreitada. Que se atreva a sonhar com um futuro melhor. Que ouse questionar, tomar opções, decidir. Que não se limite a ser forte com os fracos e fraco com os fortes. Que, sem tibiezas, defenda a prevalência do interesse público sobre os interesses privados de alguns.

E nessa matéria, o Partido Socialista e o actual Presidente da Câmara Municipal da Amadora falharam rotundamente.

O que dizer de um Presidente de Câmara que aceita passivamente a urbanização selvagem do concelho, a coberto de um Plano Director Municipal que mais não é do que uma licença para tudo construir?

O que dizer de um Presidente de Câmara que assiste alegremente à construção de um par de mamarrachos em pleno Parque Urbano da Ribeira da Falagueira?

O que dizer de um Presidente de Câmara que cruza os braços perante um atentado urbanístico como o Moinho do Guizo, onde se vive com a cabeça a poucos metros dos cabos de alta tensão?

Sem uma visão estratégica para o município, prevalece a obsessão pela palmeira. Sem um rumo definido, somos confrontados com a vertigem do canteiro, o folclore da ilha mágica ou o delírio da pista de esqui.

E no entanto, a opção de fundo a tomar quanto ao modelo de desenvolvimento pretendido para o concelho é simples:

Repetir os erros do passado, acelerando a construção de bairros residenciais de baixa qualidade e grandes superfícies comerciais, assumindo para a Amadora a condição de eterno dormitório, aqui e ali polvilhado por uns quantos jardins para enganar a vista. Ou, em alternativa, transformar o concelho num pólo de desenvolvimento à escala metropolitana, com qualidade de vida e emprego qualificado. Preservando o património natural e edificado, impondo um critério de exigência na arquitectura, atraindo empresas de base tecnológica capazes de criar riqueza de forma duradoura. Falo, no fundo, da diferença entre crescimento urbanístico especulativo e desenvolvimento sustentável.

É hoje evidente que a actual gestão camarária chegou à Amadora com a firme intenção de lotear o concelho. E cada loteamento paga um jardim, cada jardim vale uns votos. Em apenas oito anos, foi aprovada a construção de fogos para mais de quarenta mil novos habitantes, despejados nas poucas áreas que restavam por urbanizar. Uma anacrónica febre de betão como a Amadora não vivia desde os anos sessenta.

O melhor da Amadora são as pessoas, mas a verdade é que milhares dessas pessoas continuam a habitar lugares insalubres que a todos envergonham, como o Bairro 6 de Maio, o Bairro de Santa Filomena ou a Cova da Moura.

O melhor da Amadora são sempre as pessoas, mas a sensação de insegurança é tal que muitas dessas pessoas vivem praticamente sequestradas em suas casas. A criminalidade organizada, o tráfico de droga e o fenómeno dos gangs alastram. A violência sobre os agentes da autoridade atinge níveis intoleráveis. A população exige o reforço do policiamento, a solidariedade e apoio dos decisores políticos para com as forças de segurança e a reposição da autoridade do Estado. Mas a Câmara Municipal da Amadora assiste a tudo isto como se não fosse um problema seu.

Um dia, as pessoas da Amadora exigirão algo mais do que a política do repuxo. Tenho a esperança que esse dia não chegue demasiado tarde.
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João Castanheira
Artigo publicado no Notícias da Amadora
26-01-2006

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